Recordar é viver, concorda?
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Morando aqui e ali, vou treinando o desapego. Minha estrada eu faço caminhando, e com as histórias dos meus cantinhos vou descobrindo a liberdade nos seus conteúdos realizadores. Como um véu que é retirado, adiciono mais tempero a uma alimentação espiritual que mostra seus mistérios. Sei que são as decisões internas que movem nosso mundo; acredito que cada situação que nos aparece pela frente contém em si questões, que de forma prática, tornam-se uma oportunidade para o crescimento.
Um dia, há pouquíssimo tempo em Israel, ainda no período de estudos do hebraico, recebi um telefonema de meu filho, que já se encontrava há um ano no país, dizendo que havia colocado meu nome num programa de rádio que apresentava soldados imigrantes e suas mães. Eu daria uma entrevista, em Pessach, juntamente com outras mães na mesma situação. De repente, eu passei a falar hebraico (ou melhor, hibringlish) por telefone, interrogada pela repórter, que me ligava quase diariamente. Tem uma hora que você relaxa e deixa rolar, e passou a ser divertido falar com ela. E lá fui eu para a tal entrevista. Falei, tirei foto, tudo fluiu direitinho. Como para comprovar que nunca estamos sós nessa vida, também tinha encontrado, magicamente, minha família israelense no país. Uma feliz “coincidência”, canalizada por uma amiga brasileira, me fez mandar um bilhete para um kibbutz que sabia, há trinta anos atrás, era onde morava um primo que já havia morrido há muito tempo. Mas, com o sobrenome e um contato que surgiu na minha frente, a “vozinha” me disse para tentar saber dos filhos desse primo. Depois do tal programa de rádio, (soube depois que a nova família, que nunca tinha me visto, me assistiu porque passou também na televisão) peguei carona com um casal russo até poder me enfiar num ônibus, celular ligado, e cheguei ao kibbutz onde a família me esperava. Emocionante! Falei com meus primos em hebraico (de índio) por três dias. Fiquei exausta, mas aconteceu. Na hora da necessidade, não há “e se?” que nos paralise.
Às vezes penso que se conseguirmos baixar o nível de ansiedade sobre o que nos ocorrerá no futuro, e simplesmente confiarmos em nossas intuições, o leque de possibilidades se abre, mostrando portas. Sabia que deveria deixar o Centro de Absorção onde me encontrava após 6 meses, e ali estava minha próxima parada. Eu precisava escolher. Cidade? Kibbutz? Emprego? E a revalidação do diploma? Ah, essa é outra história! Como andava minha energia? O que gostaria de fazer primeiro em Israel? E tive a certeza que - ouvindo apenas a minha própria voz que gritava lá dentro sobre meus limites e possibilidades relembrando-me sobre a nova vida - necessitava, antes de mais nada, acalmar as minhas emoções. Desejei, então, e escolhi sentir-me perto de pessoas que estavam dispostas a me receber, recuperar minha energia perto da natureza, e colocar minhas ideias e sentimentos em ordem. Hoje ainda moro em kibbutz, porque adoro apreciar a obra-prima da natureza ao meu redor. Até quando? Na verdade, não sei. Quem sabe? Também estou aprendendo a aceitar o tempo certo das coisas.
Acredito que mudar, seja lá o que for, é sempre um processo complicado. Nós teimamos em colocar o velho na paisagem do que é novo até descobrirmos que cada momento é único, e a repetição fica em nossa cabeça, demora a parar. Enquanto isso, passamos por uma “faxina”, para que possamos escolher o que desejamos nesse novo contexto. Mas, por mais que doa, vamos combinar, não há nada como se ver superando obstáculos...só para começar uma nova aventura, outra vez, nessa dança que é a vida.
Vdd. As mudanças quando encaradas com maturidade nos elevam. Amei o texto! Sdds sempre.
ResponderExcluirParabéns, Rutty!
ResponderExcluirParabéns, Rutty!
ResponderExcluirBela reflexão.🌷
ResponderExcluirQue texto lindo, atemporal, cabe em várias situações de vida que requerem escolhas e mudanças!! O que quer q vc escolha, q seja inspirada por Hashem, que seja o melhor caminho🙌 Mazal tov, amiga querida. Florinda
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue texto lindo e sensível que transmite com delicadeza o processo de transformação e a beleza do desapego. Uma história real que nos inspira a confiar no tempo e na sabedoria das escolhas internas. Parabéns pela profundidade e autenticidade.
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