sábado, 7 de setembro de 2024

LÁ NA VARANDA...

  

                             LÁ NA VARANDA...



Depois de examinar o local como quem vai alugar apartamento, um passarinho construiu seu ninho numa viga perto do teto da minha varanda. Ia trazendo folhas e galhos, instalou-se, e não foi difícil perceber que se tratava de uma futura mamãe, pois um de seus ovinhos caiu no chão da varanda. E assim, todas as manhãs, vê-la chocando passou a fazer parte de minhas meditações. Reparei que de vez em quando ela desaparecia e depois regressava ao ninho e lá ficava. Quem sabe, entediada, queria mudar de ares, piar um pouco com companheiros, voar pelas árvores? Eu acompanhava o processo, e pensava com meus botões sobre a maternagem, sorrindo com as minhas próprias lembranças.
Uns dias depois, vi duas novas carinhas de passarinhos lá em cima. Um dos filhotes deixou o ninho rapidamente, bateu suas asas e voou. O outro ficou tentando voar, batia as asinhas, e desistia, voltando para o ninho. Sua mãe vinha de vez em quando olhar como iam as coisas, dava a ele comida bico a bico e ia embora. Respeitava o seu tempo, e sem saber ela estava me ensinando a fazer o mesmo: cuidar amorosamente, mas sem apegos paralisantes, choros e expressões de abandono ou de rejeição. Assim, a dedicação ao filhote não impediu a natureza de fazer seu papel. Um dia, como era de se esperar, o segundo passarinho também abriu suas asas e voou. Pelas leis do reino das aves a missão estava cumprida, e o ninho ficou vazio. Mas, não por muito tempo, porque novos pássaros vieram, e acostumei-me a vê-lo ocupado desde então.
Muitas vezes damos pouca atenção às mensagens da natureza, deixando passar lições importantes sobre a vida naquilo que nos cerca. Ali, da minha varanda, fui conectada ao tema do ninho vazio, àquilo que nos remete à passagem do tempo, quando trabalhos se encerram, filhos crescem e vão em busca de seus próprios espaços. E o envelhecimento simplesmente acontece, refletindo em nossos espelhos as inúmeras transformações. Convida-nos também a dar uma revoada, buscando folhas para nosso ninho, significados para a nova fase que se inicia. Ao abrirmos nossas asas, lá de cima visualizamos caminhos percorridos, algumas despedidas, superações, é verdade. Mas também enxergamos possibilidades de crescimento, evolução. É a mágica da vida que segue, felizmente sempre trazendo mudanças. Saudades inevitáveis à parte, agora, em nossos voos, as boas lembranças nos acompanham, iluminam os rumos, para nos sentirmos como pássaros retornando aos ninhos, acalentando novos sonhos.


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