quinta-feira, 3 de outubro de 2024

SOBRE CORAGEM

                         SOBRE CORAGEM


 


Era um final de tarde quando a sirene tocou me lembrando estarmos em guerra em Israel, e nem tinha precisado de tanto controle do celular para poder ouvi-la se tocasse. A surpresa me pegou e não sei descrever o que senti. Apenas me dirigi para a porta, ligada no piloto automático, sem lembrar do celular, e segui os vizinhos em direção ao refúgio logo acima de minha casa. Não sei dizer se foi o medo ou as sequelas de ex-fumante, talvez ambos, mas cheguei ali sem fôlego, me sentindo mal, a ponto de cair. Mas, consegui me aguentar, sentei-me numa das cadeiras, com muitas outras pessoas, esperei os dez minutos necessários, e voltei para casa. Levei uns três dias para me reequilibrar. “Marinheira de primeira viagem”, falei com amigos, pedi ajuda à espiritualidade, perdi a fome, a esperança, e me senti dominada pelo medo. Lentamente fui me acalmando, observando que as pessoas prosseguiam com suas vidas, e libertei-me do stress agudo. Da segunda vez, estava relaxada, o alarme tocou e levei um susto daqueles, mas consegui pegar o celular, calçar os sapatos e abrir a porta, enfrentando o sol escaldante. Dominei o fôlego respirando fundo até que um vizinho me deu a mão e foi me levando até lá em cima onde outros já estavam refugiados. Dias depois fiz esse mesmo percurso, mais esperta, levando minha bolsinha com uma garrafinha de água (que agora dorme próxima à porta), celular no bolso. Não dá para se acostumar com esse tipo de coisa sem pagar o preço, e no meu caso, o estômago ficou revirado por dias seguidos com o medo fazendo das suas.  Na gangorra das emoções ele fica lá embaixo, prendendo a coragem que não consegue descer e se equilibrar.  

Nem sempre temos consciência imediatamente das mudanças que acontecem conosco quando além de sabermos, vivenciamos algo. Decisões urgentes vão nos transformando, e ao nosso jeito de ser e estar nessa vida, empurrando as dúvidas para dar espaço às novas informações apressadas que estão chegando. E, na busca de sentido, de significado, nós vamos interpretando, conectando, tirando conclusões sobre as nossas novelas e novelos, enfrentando as provas com coragem.  Prosseguimos, seguimos adiante, valorizando aquilo que realmente é importante para cada um de nós, retirando o véu que encobre a força que vem dos enfrentamentos. 

Através do medo, eu trouxe um guerreiro para minha consciência, e a coragem vem aprendendo a descer da gangorra. Finalizo lembrando Viktor Frankl: “Não é o que você espera da vida, mas o que a vida espera de você”.